quinta-feira, junho 29, 2006

Nos Meus Lábios



Com pouco tempo, ultimamente, guardei um tempinho e fui buscar ao armário um filme que andava para ver há algum tempo.
"Sur mes levres" de Jacques Audiard, com um actor que aprecio intensamente, Vincent Cassel.

Carla (Emmanuelle Devos) é empregada de escritório, é surda e enxovalhada por todos os colegas da empresa. O facto de Carla ter a capacidade de ler os lábios, permite-lhe compreender o que dizem dela, tornando-a mais fechada, mais isolada e em profundo desamparo. Não é uma mulher atraente, é uma mulher banal que apenas vive para um trabalho onde não é valorizada. A sua vida muda no dia em que conhece Paul um ex-presidiário(Vincent Cassel), que é contratado para a auxiliar nas tarefas da empresa.
A relação que vai traçar-se entre os dois é curiosa e invulgar, e acabam por envolver-se numa situação que transforma este, aparente, drama inicial,num caricato thriller, onde a capacidade de Carla ler os lábios servirá para outros fins mais "criminais".
A cena final entre os dois é de extrema beleza por ser tão singela, o silêncio e as imagens envolvem-nos. E o filme termina...
Como aparece no cartaz do filme:
"Il va lui apprendre les mauvaises manières... Elle lui apprendra les bonnes..."

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quarta-feira, junho 21, 2006


Joelho

Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho

Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio

Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo

Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo

Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo

E os lençois desalinhados
como se fosse
de vento

Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas

Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.

Maria Teresa Horta

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sábado, junho 17, 2006

"Glory Road"




É um daqueles filmes que não é uma prioridade, uma vontade, nem sequer uma curiosidade, mas eu teimo em ver tudo o que posso, sempre que posso.
"Glory Road" é baseado numa histórica verí­dica, a conquista extraordinária do treinador de basquetebol, Don Haskins, que elevou a equipa Texas Wester Miners ao primeiro lugar da liga.
Mas o principal não é tão só esta conquista, mas principalmente a conquista contra a segregação racial, formando a sua equipa com jogadores negros e, desta forma, enfrentando as provocações,a marginalização e a violência do racismo. Don Haskins foi o primeiro treinador americano a criar uma equipa mista, acontecimento estranho nos anos 60.
O valor deste filme encontra-se no facto de nos mostrar a conturbada onda de racismo nos E.U.A. e provar-nos que a terra de sonhos não existe, nem nos filmes americanos, pois como afirmei, isto é uma história verí­dica...

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quinta-feira, junho 15, 2006

"Running Scared"



Running Scared (Medo de Morte) É mais um daqueles filmes que passam por aí­ esquecidos, sem grande alarido ou publicidade. E, como aconteceu com Crash, é um bom filme que teve apenas o azar de ser estreado ao lado de grandes produções que ofuscam este tipo de filme e ofuscam a mente humana. Crash versus King Kong, Running Scared versus Da Vinci Code.
Realizado por Wayne Kramer, é um filme que podemos considerar de acção com um grande drama envolvente.
Não será tanto pela história base que nos deixamos cativar, mas sim pela forma como é tratada e conduzida. Uma narrativa rápida, com efeitos de montagem e ângulos de câmara invulgares que quebram a eventual linearidade temporal. E para finalizar, um genérico final extremamente curioso, a lembrar-nos os irmãos Grimm.
Não deixo aqui a sinopse (para não estragar o prazer de ver o filme) mas deixo uma frase do crítico de cinema, Sérgio Dias Branco, da revista Premiere, referindo-se a este filme: “Para voltarmos a acreditar no cinema de acção como arteâ€�…

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quarta-feira, junho 14, 2006


(...)"As palavras que escrevo correndo
entre a limalha. A tua boca como um buraco luminoso,
arterial.
E o grande lugar anatómico em que pulsas como um lençol lavrado.
A paixão é voraz, o silêncio
alimenta-se
fixamente de mel envenenado. E eu escrevo-te
toda
no cometa que te envolve as ancas como um beijo.
Os dias côncavos, os quartos alagados, as noites que crescem
nos quartos.
É de ouro a paisagem que nasce: eu torço-a
entre os braços. E há roupas vivas, o imóvel
relâmpago das frutas. O incêndio atrás das noites corta
pelo meio
o abraço da nossa morte. Os fulcros das caras
um pouco loucas
engolfadas, entre as mãos sumptuosas.
A doçura mata.
A luz salta às golfadas.
A terra é alta.
Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas."

Herberto Helder

(fotografia de Hugo Amador)

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segunda-feira, junho 12, 2006

"Em nome da terra"-II


"Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E então pensei: vou-te escrever. Mas não te quero amar no tempo em que te lembro. Quero-te amar antes, muito antes. É quando o que é grande acontece. E não me digas lá porquê. Não sei. O que é grande acontece no eterno e o amor é assim, devias saber. Ama-se como se tem uma iluminação, deves ter ouvido. Ou se bate forte com a cabeça. Pelo menos comigo foi assim. Ou como quando se dá uma conjugação de astros no infinito, deve vir nos livros. Ou mais provavelmente esse tempo nunca pára de existir, que é quando realmente existe o que vale a pena existir. Vou pensar melhor a ver se eu próprio entendo."

Vergílio Ferreira

(fotografia de Luí­s Miguel Mateus)

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domingo, junho 11, 2006

"Gente feliz com lágrimas" II


"Não soube merecê-la. Porque uma paixão assim, quando passa ou desliza para além de um minuto, atinge a eternidade. Pode-se vivê-la como uma promessa ou uma ficção, mas nunca como a viagem primordial ou a origem perfeita.
Ainda hei-de pensar que tudo isto não passou afinal de um riso que chora ou de um pranto que ri - e de literatura."

João de Melo in Gente feliz com lágrimas

(Fotografia de Paulo César)

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"Em nome da terra"


"Estás em muitos sí­tios, és múltipla, há mesmo um grande grupo de ti. És muitas e todas querem entrar agora no nosso encontro. Vou-te impor uma regra, é uma de cada vez. E eu amo-te em cada uma em maneiras sucessivas até ficar por fim a maneira única do teu corpo e mais acima, mas mais tarde, a sua memória e a tua eternidade."

Vergí­lio Ferreira

(fotografia de Paulo César)

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terça-feira, junho 06, 2006

Gente feliz com lágrimas


"Promete-me amor que hás-de ser meu para sempre amor. E que se alguma vez deixares de pertencer-me como agora, nem mesmo assim se perderá aquilo que aqui estamos vivendo. Prometes?
- Como posso eu esquecer-te amor, se tu és afinal a minha infância?"

João de Melo

(fotografia de W. Eugene Smith)

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domingo, junho 04, 2006

Levity
















"Uma vez li um livro escrito no séc. XI. Um homem dizia que são 5 os passos para a redenção.
O 1º era reconhecer o que se fez.
O 2º era ter remorso.
O 3º era agir correctamente com o seu vizinho. Como se lhe roubasses uma galinha terias que lhe trazer outra de volta.

Só assim estarias pronto para o 4º passo que era agir correctamente com Deus.
Mas só no 5º passo te conseguirias realmente redimir. E tinha de ser feito no mesmo lugar e na mesma situação. Repetir o mesmo caminho, mas de modo diferente.
Mas o tempo assegura-se que não estejamos duas vezes no mesmo lugar, por muito que o desejemos…�

Manuel Jordan (Billy Bob Thorton)

Directed by Ed Solomon (2003)

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