sexta-feira, julho 14, 2006

Extravagâncias na idolatria


Idolatrou-a no mesmo instante em que a susteve nas mãos que carregavam os sonhos!

Defronte dela a sua própria presença era ténue e embriagada. Nas vozes que ouvia imaginava um qualquer sonho de liberdade, um sonho de imortalidade, apoiado numa crença absoluta e incontestável. Mas sentia a letargia em todo o corpo, limitava-se a reduzir-se ao silêncio e a calar a amargura da sua ausência de voz. Permanecia calado e insistia nisso como numa teimosia infantil.
E a cada instante que passava criava e recriava momentos e situações, palavras e discursos. Mas recriações de louco nunca reproduziram efeitos rápidos ou eficazes. E o problema dele era mesmo a loucura que carregava há tantos anos, que já nem a considerava loucura, mas sim companheira de viagem.
Os passos que o conduziam eram independentes do seu corpo e levavam-no até insondáveis caminhos. Por vezes dava por si parado na contemplação do vazio. Mas que vazio era esse se, quando despertava, apenas a vislumbrava a ela numa etérea passagem. E o resto do Mundo, e a realidade da vida? O que era real ou ilusório? Não o sabia porque os loucos não o sabem. Mas como louco era extravagante e deixou-se levar por fundamentos interplanetários, e pensou que tinha encontrado o seu prazer mais absoluto, mesmo que efémero. Decidiu então entregar-se completamente e confiar-se a si próprio, ficaria assim a desvendar a sua alma, não porque procurasse nela algo de muito concreto, mas porque pelo contrário, abstractamente, tinha direito a todos os sonhos do Universo, porque era a sua alma que os transportava, ele era o seu único proprietário e podia ser um navegante sem mar, um eterno sonhador de sonhos que não se materializam por serem sonhos.
A partir desse dia vinha tudo em espiral alucinante, e não se sentia amedrontado ou calado, porque dentro de si gritavam as vozes de todos os Deuses e de todos os poetas.
Viu-a sem a ter visto, beijou-a, sem a ter beijado, tocou-a sem a ter tocado. E descobriu nela a mulher da sua vida.
Se era loucura, imaginação, descontrolo ou não, não o sabia, porque apenas revisitava o seu lunário, e renovava as suas imaginárias cristalizações, reconstrui­a a extravagância de idolatria...

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3 Comments:

Blogger Christopher Faust said...

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3:59 da manhã  
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Anonymous Anónimo said...

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