terça-feira, setembro 19, 2006

Retratos do Amor (2)



"DESCONSTRUÇÕES"(Martha Medeiros)

Quando conhecemos uma pessoa, construímos uma imagem dela.
Esta imagem não tem a ver com o que a pessoa é de verdade, tem a ver com as nossas expectativas e tem muito a ver com o que ela "vende" de si mesma.
É pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos.
Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que projectou em nós,desfazer-se deste amor, mais tarde,não será tão penoso.
Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa, mas nada que resista por muito tempo.
No final, sobreviverão as boas lembranças.
Mas se esta pessoa "inventou" uma personagem e você caiu na armadilha,aí, somado à dor da separação, virá um processo mais lento e sofrido:a de desconstrução daquela pessoa que você achou que era real.
Desconstruindo Flávia, desconstruindo Gilson, desconstruindo Marcelo...
Milhares de pessoas estão vivendo os seus dias aparentemente numa boa,mas por dentro estão desconstruindo ilusões;tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por alguém autêntico.
Ok, é natural que, numa aproximação, nós mostremos mais as nossas qualidades que defeitos.
Ninguém vai iniciar uma história dizendo:
muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e cleptomaníaco.
Nada disso, é a hora de fazer charme.
Mas isso é no começo.
Uma vez o romance engatado, aí as defesas são postas de lado e nós mostramos quem realmente somos, as nossas gracinhas e as nossas imperfeições.
Isso se formos honestos.
Os desonestos do amor são aqueles que fabricam ideias e atitudes, até que um dia se cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, atónito.
Quem se apaixonou por um falsário, tem que desconstruí-lo para se desapaixonar.
É um sufoco.
Exige que você reconheça que foi seduzido por uma fantasia,que você é capaz de se deixar confundir,que o seu desejo de amar é mais forte do que a sua astúcia.
Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir.
Tudo não passou de uma representação ? e olha, talvez até não tenha sido por mal...
Pode ser que esta pessoa nem se conheça a si mesma, por isso ela se inventa.
Nós resistimos muito a aceitar que alguém que amamos não é, e nem nunca foi especial.
Que sorte quando sabemos com quem estamos lidando:
mesmo que venha a desamá-lo um dia, tudo o que foi construído se manterá de pé.

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