segunda-feira, novembro 06, 2006

Asfixia


Asfixia - Pedro Paixão
Editora: Quetzal Editores






Sinopse:
Pequenas ficções a partir de "histórias reais", em que universos distintos (que no entanto se podem ver como um todo) são explorados numa prosa clara, sintética, irónica e poética. Uma escrita sensível e contemporânea sobre o amor, o desejo, o desespero, a procura, o encontro e o desencontro, a solidão, a morte, e também a esperança.

"Sonhei que te beijava muito, longamente. Sobre uma duna, branco o mar distante. Porque estva calor, de quando em quando, servíamo-nos do vento que fazíamos com leques. Depois voltávamos a beijar-nos durante muito tempo. Também mordia os teus cabelos que me lembravam de ti, do teu nome. Os teus olhos reflectiam o sol, cintilavam intensamente."

"Logo na noite em que te vi fiquei doido por não poder dormir contigo. Não conseguia adormecer. Uma tremenda cobiça dava-me cabo do desejo. Eras uma musa encantada, talvez fosse isso, ou um corpo que eu queria desfazer num aperto, ou mesmo as duas coisas misturadas. Tinhas o fascínio, a magia, a sedução perigosa que pode conduzir ao delírio e à morte. Tive de tomar comprimidos. Estavas de passagem e pelas ruas por onde seguias deixavas um rasto de desejo. Os homens olhavam-te com respeito, ficavam calados, baixavam os olhos. Não podia deixar de te perseguir. Era um golpe, uma dor de alma ver-te e não tocar-te. Logo que pude meti-me num avião que me levasse à tua cidade."




Citação:
Escrever pode ser uma óptima desculpa para quem na vida não tem qualquer esperança. É uma maneira de preencher uma sombra e há momentos em que um beijo escrito vale por muitos. (Nos teus braços morreríamos)

Etiquetas:

2 Comments:

Blogger Unknown said...

Este é um grande senhor da escita e das palavras. Excelente sugestão.
Recomenda-se.

Um beijo

2:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Os teus nomes

Eu não sou o meu nome. Eu sou o teu nome escrito do avesso. Eu sou o meu nome encostado à tua cabeça. O meu nome que foge de mim. O teu nome e o meu nome atados com cordas. O teu nome sou eu quando me debruço por cima do teu ombro. O meu nome a fazer uma pirueta. O meu nome a cair lentamente sobre a tua cama estreita de mulher. O teu nome dentro da minha boca. Sou eu a pedir-te que repitas o meu nome, sussurro a sussurro, letra a letra. Sou eu a dizer o teu nome que trago debaixo da língua. O teu nome no meu sexo estampado. O meu nome no teu sexo estrela. O meu nome é um sexo levantado. O meu nome é uma carícia que me fazes por cima da minha cicatriz. O meu nome é a cicatriz a meio do teu corpo. O meu nome plana por cima das planícies em busca do teu nome. O meu nome cai a pique junto ao teu nome. Nunca digas o meu nome. O meu nome não existe. Não vem em nenhuma página escrita. O meu nome é um grafiti escrito a verde ultramarino. Verde ultramarino é a cor de que mais gostam os nossos nomes. O meu nome sobre o teu nome. O teu nome sobre o meu nome. Os nomes muito perto. Os nomes muitos. Os nomes exaltados. O meu nome em cadência lenta. O meu nome é forte como um bicho selvagem. Os nossos nomes percorrem as paisagens como cavalos endoidecidos. Quem diz o meu nome diz amor, qualquer coisa aflita. Quem diz o teu nome deseja ser atingido por um raio, elevado aos céus. O meu nome por dentro do teu nome. O teu nome a pedir perdão por tudo. O meu nome, o teu nome, agarrados por cordas, a cair num precipício. Os nossos nomes são coisas que se comem por dentro. As coisas pelos nossos nomes são aves sagradas. Nome a nome, coisa a coisa. O sol morre dentro do meu nome, na minha boca. O teu nome abriga numa mão fechada o que resta do meu nome. Nomes muito belos. Um nome sem nome. Um nome inefável, inomável. Um nome que ninguém conhece. Só o teu nome sabe o meu nome de cor. O meu nome a subir pelo teu. O teu nome repete o meu nome, nome a nome, sílaba a sílaba. As coisas pelos seus nomes. Os nomes pelas suas coisas. Cada coisa com seu nome, o nome sem fim. Cada nome com sua coisa. O nome do nome no umbigo do mundo.

pedro paixao

8:15 da tarde  

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