quarta-feira, novembro 29, 2006

David Mourão-Ferreira


















Teoria das marés

Calidamente nua,
sob o vestido leve,
tua carne flutua
no desejo que teve.

Timidamente nua,
revelas, num olhar,
em minhas mãos, a lua
que te fez oscilar.

Encontro

O teu mistério decifrei-o
numa pupila cega:
fechado e aberto como um seio
que pela noite se me entrega.

A luz, se vinha, não descia
do coração nem dos sentidos:
mas concentrava a extática alegria
de nos sentirmos confundidos.










Soneto do cativo

Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;

o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;

se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;

não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso.

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2 Comments:

Blogger Chellot said...

As poesias são soberbas. Cada uma em seu estilo, seu encanto.

Neste caminho senti uma presença iluminada que refletiu em suas palavras.

Beijos estrelados.

10:16 da manhã  
Blogger Hugo said...

Talvez por estarmos perto do Natal: que tal dar uma espreitadela aos poemas que Mourão-Ferreira fez sobre o tema? :-)

10:23 da manhã  

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