sexta-feira, agosto 03, 2007

Uma tarde com Jim Carrey

Não sendo grande apreciadora de Jim Carrey, hoje resolvi dedicar-lhe uma tarde. Assim sendo, vi "O despertar da mente" e o "Número 23". Estes filmes, de géneros completamente diferentes, deixam um traço comum e inegável, Jim Carrey é um bom actor, versátil, mas por vezes talvez mal aproveitado.
Descobri que o meu dilema em relação a ele, é precisamente o hábito que criei de associá-lo sempre a uma série de comédias que vi (género que não aprecio muito e do qual, por isso, exijo em demasia), que o tornaram conhecido do público, onde vejo sempre os mesmos esgares, as mesmas palermices e essa repetição faz-me sempre associar Jim Carrey ao mesmo tipo de papéis e cansar-me.
Ora bem, nos filmes que vi hoje à tarde, dou a mão à palmatória e digo que Carrey vale a pena (sem esquecer Truman Show).


Título: The Number 23 (Número 23)

Ano: 2007

Realização: Joel Schumacher

Argumento: Fernley Phillips

Elenco: Jim Carrey, Virginia Madsen, Danny Huston.





Sinopse:
Um homem recebe um misterioso livro da sua mulher. Ao lê-lo reconhece várias das passagens como sendo da sua vida, o que o torna cada vez mais paranóico.


Título: Eternal Sunshine of the Spotless Mind (O Despertar da mente

Ano: 2004

Realização: Michel Gondry

Argumento: Charlie Kaufman

Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Kirsten Dunst, Elijah Wood, Mark Ruffalo, Tom Wilkinson.



Sinopse:
Joel é surpreendido com a descoberta de que Clementine, a namorada, apagou as memórias da sua relação. Desesperado, contacta o inventor do processo para que este lhe elimine as memórias de Clementine.

Comentário:

Número 23- Tendo uma premissa boa, e uma boa interpretação de Jim Carrey, o filme decepcionou-me um pouco. A forma como a história é contada e retratada deixa um travo de um filme menor, com momentos algo dispensáveis e um tanto absurdos.
Numa tentativa de mostrar um lado noir, as partes em que vemos o detective Fingerling (representado também por Jim Carrey) tornam-se um tanto exaustivas. A história de Walter Sparrow, a narração da sua crescente obsessão demora a desenrolar, inclusivamente parece impossível que a personagem demore tanto tempo a ler um livro que se torna o cerne da sua vida, enquanto o filho numa noite praticamente o lê. Ou seja, pormenores demasiado irreais. O final é também um tanto ou quanto previsível, porque desde o início, embora com uma narrativa demorada, denotamos a ligação possível de Walter Sparrow à história do livro.
O que posso concluir e reforçar é de facto a premissa que é interessante e a interpretação de Jim Carrey, o resto é muito fraco, mesmo que reconheça em alguns filmes de Schumacher (como Phone booth, The Client ou Falling down) alguma qualidade, não encontro o mesmo em Number 23.

O despertar da mente – Bem, aqui a história é outra, não só a história do filme, mas como também tudo o que o envolve.
Se Charlie Kaufman foi autor de grandes argumentos como "Being John Malkovich", ou "Adaptation", em "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" superou-se.
Quanto a Michel Gondry, conhecido pelos excelentes videoclips criados para Björk ou The Chemical Brothers, é sem sombra de dúvida um grande e peculiar realizador. Vi primeiro "The Science of Sleep" e só agora "Eternal Sunshine of the Spotless Mind", mas encontro na forma como o filme é realizado grandes semelhanças, já que estamos num mundo de sonhos e memórias e a forma como Gondry os trata é de todo invulgar e especial.
Mas à parte a questão dos sonhos, das memórias e das lembranças, em "Eternal Sunshine of the Spotless Mind", encontramos, por entre o drama e a comédia, uma bonita história de amor (sem aquele aspecto lamechas a que o género está muitas vezes submetido).
As personagens desempenhadas por Jim Carrey e Kate Winslet são uma prova de que o amor resulta entre pessoas tão diferentes, desencontradas e opostas na vida, mas tão próximas e encontradas nesse eterno sentimento que nos alegra a vida a todos.
As interpretações são excelentes, em particular Jim Carrey (tão diferente das suas comédias repetitivas) e mesmo as personagens secundárias têm, embora menores, grandes interpretações, como Elijah Wood, Mark Ruffalo, Kirsten Dunst e Tom Wilkinson.
A realização é sem dúvida criativa com cenários invulgares (encontrados também em The Science of Sleep) mas a representar bem as memórias e os sonhos que vivem dentro do nosso subconsciente.
A banda sonora fantástica, com destaque para a versão de Beck da música "Everybody's Gotta Learn Sometimes" dos Korgis.
Ou seja, se um filme tem um argumento magnífico e invulgar, uma realização extremamente criativa, uma banda sonora fenomenal e um leque de actores com representações irrepreensíveis, o que podemos dizer de um filme assim?
Eu digo: A ver, a rever, MAGNÍFICO!!!

"How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd"
Alexander Pope

Etiquetas:

10 Comments:

Blogger dermot said...

Ainda não vi este Número 23, mas o teu texto não me deixou nada curioso para o ver...
Talvez num dia que passe na TVI à noite e eu esteja com insónias...

11:04 da manhã  
Blogger Naeno said...

CONSTRUTOR

Construir uma noite é fácil demais
Basta juntar todos os pesadelos
E deixar-se embriagar pelos luares
Desembaraçar estrelas aos novelos
Tecendo distantes constelações
Nos nadas azuis do firmamento imóvel
Até que as distâncias unifiquem os tons
Parindo do escuro a negritude móvel.

Mais complicado é inventar o dia
Tem-se que ser operário da luz
Colher claridade do claro que se irradia
E bordar da luz do sol pontos de cruz.

Um beijo
Naeo

8:57 da tarde  
Blogger Bracken said...

Olá! Encontrei por acaso o teu blogue e perdoa-me a correcção ao título: "cino" é um prefixo que diz respeito a cães (um "cinófilo", por exemplo, é um entendido ou coleccionador de canídeos), pelo que deveria ser "CINEbibliomusicais".
Um abraço,
Bracken

7:51 da tarde  
Blogger Museu do Cinema said...

O Jim Carrey é mesmo um ator sensacional, eu sou fã dele e até entendo essa sua recusa pelos primeiros filmes dele.

9:43 da tarde  
Blogger serotonina said...

O eternal sunshine of the spotless mind é sem dúvida, um dos meus filmes preferidos. Estou curiosa com o 23.
Também, sempre associei o Jim às comédias parvas, mas naquele filme reconciliei-me com o actor.

9:50 da tarde  
Blogger indigo des urtigues said...

Tb fiquei com uma má impressão dele devido aos 1ºs filmes, mas veio a surpreender, sim!

4:58 da tarde  
Blogger spring said...

olá lua obscura!
nós não somos grandes fans do Jim, mas existem dois filmes que adoramos, "The Truman Show" e "The Majestic" este último, muito pouco conhecido, com um argumento que poderia ter sido assinado pelo Frank Capra, uma película comovente.
cumprimentos cinéfilos
paula e rui lima

5:03 da tarde  
Blogger pseudo-autor said...

Um filme decepcionante e uma quase obra-prima. Número 23 é terrível porque Joel Schumacher não consegue manter um segredo oculto até o final da película. Ele entrega suas intenções finais de bandeja ao espectador. Já Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (como foi lançado por aqui) é belíssimo, original, foge da mesmice desse cinema atual que nos faz correr atrás - como doidos! - de filmes interessantes. E, sim, Jim Carrey vale a pena como ator. Gostaria que ele abandonasse de vez a comédia. Ah! você também postou sobre Amor à Flor da Pele, do Wong Kar-Wai. Belíssimo!

Meus outros blogs:
http://cave.zip.net
http://fotovoyeur.zip.net
http://houseagency.blogspot.com

6:46 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não vi o nº23 mas o Eternal Sunshine é das mais bonitas histórias de amor dos últimos anos, tão forte que resiste no subsconsciente... a ideia é lindíssima e o filme é um espectáculo de emoções, desde inadaptação a frustração, de entusiasmo a euforia, de raiva a esperança... Fortíssimo, de encher a alma toda :)

12:58 da tarde  
Blogger Susana Fonseca said...

Bracken:- Obrigada, mas o nome do blog nasceu de um trocadilho, embora seja agramatical. O cino não se refere a cinema, pretendendo ser um prefixo para tal. Seria um trocadilho do género: "cin ou biblio..." Cinema, ou livros, ou músicas.

8:19 da tarde  

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