sábado, outubro 20, 2007

Dois filmes de Buñuel


Viridiana
Ano: 1961
Elenco:
Silvia Pinal
Francisco Rabal
Fernando Rey
Margarita Lozano









Le Charme Discret de la Burgeoisie - O charme discreto da Burguesia

Ano: 1972
Elenco:
Fernando Rey
Paul Frankeur
Julien Bertheau
Milena Vukotic
Stéphane Audran
Delphine Seyrig
Jean Pierre Cassel



Comentário:
Tanto em "Viridiana" como em "O Charme discreto da Burguesia" Buñuel filma despreocupadamente, criticando mordazmente, mas a crítica tem alvos diferentes e é apresentada também de forma diferente.
Em "Viridiana" temos uma jovem noviça que visita o seu tio viúvo, que acaba por tentar seduzi-la. Não o conseguindo o tio suicida-se e Viridiana abandona o convento pela culpa que carrega, dedicando-se à caridade, abrigando, na casa que pertencia a seu tio, alguns mendigos (o próprio significado do nome Viridiana relaciona-se com altruísmo e doçura, características principais da personagem). Claro que a caridade cristã de Viridiana acaba por mostrar-lhe a outra face do Ser Humano, a maldade, as tentações, a libertinagem, que ingenuamente desconhecia.
Buñuel acabou por atingir a igreja Católica e o próprio Vaticano condenou e censurou o filme, considerando-o blasfemo. Buñuel, de forma ousada, chega a reconstruir a última ceia de Da Vinci com o libertino grupo de mendigos.
Para além da crítica central, à religião, está também presente a crítica à sociedade da época e à burguesia. Mas maior crítica à burguesia vamos encontrar em "O charme discreto da burguesia", aqui de forma mais cómica, com cenários menos mórbidos e muito mais surrealistas, onde seis personagens burguesas, cujas verdadeiras essências corruptas, se escondem por detrás da capa burguesa.
O filme combina realidade com sonho, e nele desfilam inúmeras personagens caricatas e situações risíveis. Um jantar entre os burgueses que nunca se completa pela constante interrupção de situações surreais. O bispo que quer ser jardineiro, os soldados que irrompem e se juntam ao jantar, o sonho de um dos soldados, o desconhecido que se senta na mesa de um fino salão de chá (onde se esgotam as tisanas, o chá e o café) para contar a sua história, os sonhos das personagens, o restaurante onde se vela um morto. Em suma, o surrealismo de Buñuel na crítica à hipocrisia, à vaidade e à mentira.
Dois bons filmes, como todos os de Buñuel, em estilos diferentes, mas ao mesmo tempo singulares com o toque inconfundível deste grande cineasta.

Etiquetas:

7 Comments:

Blogger LF said...

VIRIDIANA - Um dos melhores filmes da história do cinema !
Inesquecível a sequência da refeição com os mendigos, evocando a última ceia de Cristo.
Uma violenta crítica à caridade enquanto forma de compensação social, e à igreja como sua interprete.
Para ver e rever.
Uma obra-prima absoluta !

Quanto ao CHARME DISCRETO DA BURGUESIA sou mais poupado nas palavras. Não creio que seja um dos melhores filmes de Buñuel

À excepção de Viridiana, adoro "Tristana", "Belle de Jour" (que por acaso vi nesta sexta-feira em VHS), e sobretudo, "Este Obscuro Objecto de Desejo", outra obra prima que já vi várias vezes, e de cada uma delas me marcou profundamente - um verdadeiro tratado sobre os homens e as mulheres, sobre prazer e vingança, sobre vida e morte. Do melhor que há !

5:20 da tarde  
Blogger PostScriptum said...

O filme pode e deve - no meu entender - ter uma função crítica.
Viridiana, como disse e bem o/a IF, é um tratado contra a hipocrisia.

Beijinhos, S.

11:50 da manhã  
Blogger Luís A. said...

tenho de ver , tenho de ver, tenho de ver:)

1:27 da tarde  
Blogger Museu do Cinema said...

o Buñuel é craque mesmo!

2:09 da tarde  
Blogger Susana Fonseca said...

Buñuel é um mestre mesmo!
Também gosto muito de "Tristana" e adoro "Belle de Jour".
Entre os dois que referi no post a minha preferência vai para "Viridiana", sem dúvida.

4:37 da tarde  
Blogger spring said...

olá lua obscura!
regressados de férias retomamos as leituras e escritas:)
"Viridiana" possui uma história curiosa... Buñuel regressara do Mexico e os ventos em Espanha começaram a ter um certo cheiro a "liberalismo" na cultura, com o desconhecimento de Franco, por essa razão e como Buñuel era Mestre no engano, conseguiu fazer o filme com dinheiro do Estado e levar o filme a concurso ao Festival de Cannes a representar a Espanha. É claro que ´ninguem tinha visto ainda a película e quando rebentou o escândalo, a comissão de censura franquista caiu literalmente da cadeira abaixo depois de ter visionado o filme... era tarde demais. Como não podia deixar de ser Buñuel lá teve que partir para uma nova "caminhada".
Ambos os filmes são excelentes e nestas terras lusas quando "O Charme Discreto da Burguesia" se estreou no cinema Londres, "muita boa gente" foi escandalizada.
PS-Embora muito pouco falado o período mexicano do cineasta merece ser redescoberto.
cumprimentos cinéfilos

1:00 da tarde  
Blogger Ursdens said...

O sarcasmo de "O charme discreto da burguesia" é qualquer coisa de fabuloso! Há uns tempos vi um filme que me fez lembrar esse no que à sátira diz respeito, embora sem a âmbiência surrealista - "Le dîner de cons" de Francis Veber. Se ainda não tiveres visto, ora aqui fica uma sugestão. :)

Cumprimentos cinéfilos!

10:24 da tarde  

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